segunda-feira, 30 de abril de 2007

Renúncia


Não é o cansaço físico que me aflige, mas o cansaço sentimental, a estafa do coração cansado de insistir numa farsa cuja razão não existe.
Não sofro mais, não choro, não penso... apenas tenho a certeza que tentei com todas as minhas forças até se esgotarem uma por uma as chances de consertar tudo que eu pensava estar despedaçado.
Não restou vestígios.
Há apenas alguns farelos esparramados em cada época da minha existência como grãos de areia soprados ao vento.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Transformações


E a paixão tornou-se comodismo, que se incomodou com o apego e quis transformar-se em indiferença.
O distanciamento mudou de nome e preferiu sair de mansinho para não virar esquecimento.
A sensatez apareceu sem disfarce e mandou todos os outros sentimentos para o final da fila, onde se esconde de olhos fechados, o amor.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Despertar


Era uma pessoa inteligente e mal acostumada.
Tinha uma enorme vontade de aprender, mas o comodismo a transportava para uma dimensão ociosa onde a preguiça exercia domínio quase total. As artes, suas paixões, eram admiradas em segredo, escondendo sua inclinação e afeição pelos segmentos artísticos.
Não sabia por que sentia vergonha dos seus gostos e amava escrever.
Tinha plena noção de sua ignorância a respeito de todas as coisas que admirava adiando sempre seus afazeres. Pensava que não possuía inteligência suficiente para aprender, e supunha que seu intelecto não suportaria enfrentar exercícios de aprendizagem mais complexos, mas tinha muita esperança de ser resgatada de pensamentos tão cruéis.
Sabia não ser a única a suportar tais pressões imaginárias e sabia também ser capaz de salvar-se do afogamento mental ao qual se impôs.
Era uma lição que lhe custaria um esforço descomunal e muita fé.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Intento


Perguntou-me uma vez como seria possível amar diferentes corações ao mesmo tempo. Eu lhe respondi que nunca soube de situação parecida e jamais acreditaria no intuito de um amor cuja veracidade sofresse divisão ou comparações.
Ficou mudo por uns minutos, replicou que pensava da mesma forma e saiu sem se despedir.
Ao ouvir as batidas do seu coração se distanciando, percebi o real motivo de tal questionamento.
Não era a mim que ele amava, mas pensava em ouvir uma resposta clara para todas as suas dúvidas, por julgar-me apta e conhecedora de algumas possibilidades e esperanças da existência.
Estava enganado.
Não há conhecimento capaz de desvendar os mistérios do amor, mas uma mente limpa de preconceitos pode distinguir as armadilhas tentadoras e confusas da vida.
Foi assim, dessa maneira, sem precisar lhe dizer nada, o fiz compreender a maneira mais simples de eliminar sensações de embaraço.
A percepção do amor verdadeiro veio como uma chuva de sentimentos reais e varreu todo o vestígio de incerteza.
Eu soube depois, que não houve brigas nem despedidas.
Tudo voltou ao normal como se o antes não houvesse existido e o agora fosse à única verdade.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Certezas impensáveis


Reconheço o instinto cruel e indiferente acobertado pela sensibilidade presente na inconsciência desperta.
Somente o percebo após a conclusão do assassinato dos seus maiores desejos a substituí-los por melhores respostas às perguntas que fazem de si para si.

É provável que sejam alienados, porque ao fugir de suas certezas caiem no abismo das dúvidas e fantasias que procuram eliminar, ainda que pensem na hipótese de ser apenas indecisão revestida de uma falsa inocência, acobertando sua verdadeira personalidade.


Tudo tão evasivo quanto um engano cometido por vontade própria.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O rio em uma gota


O triste encanto da minha alma esvaiu-se como um rio ébrio, em seu choro perfumado de música.
No chão apenas um filete de cristais incolor corria para o nada, na busca desesperada pela esperança.
Não havia mais nada a ser feito.
Chorar não consolaria o coração despedaçado, nem restituiria os pedaços esquecidos na estrada.
Dormir poderia ser uma solução.
Mas o que fazer ao acordar sem a coragem determinante para a busca da felicidade?
Talvez a esperança queira mesmo ir embora.
Não é certo deixa-la ir, mas também não é correto aprisiona-la.
Há que se correr atrás dela para sempre até a ultima gota do rio.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Tempo


Distante são os momentos passados de uma vida, ocultando sua história dentro de um baú esquecido, soltando pelas frestas amarrotadas as marcas dos eventos findos.
Venturoso é o dia de hoje, e suas certezas improváveis suspensas no ponteiro de um relógio.
Enigmático é o amanhã, aprisionado à margem do precipício irresoluto, oscilando entre a expectativa e o acaso.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A saudade



...
Saudade é uma palavra bonita e descontente.
É um dilúvio de desilusão com ondas gigantes de nostalgia cristalizadas em lágrimas dentro da alma.
É a força de um coração para não esquecer a lembrança de um dia.
É o sabor da vida degustado em pequenas porções.
É o combustível que retarda o tempo por uns instantes e resgata os momentos que não foram perdidos.
É menos que tudo e um pouco mais que nada.
É uma lanterna que ilumina um rosto perdido na escuridão e traz à vida o que fomos e quem seremos...

...apenas saudade!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Reinvenção


Contradições, incertezas, confusões e muito mais me fizeram construir e reconstruir diversas vezes as muralhas espessas de meus sonhos. Antes de alcançá-los apaguei um por um sem destruí-los por completo, e através do rastro esfumaçados pude buscar mais tarde, as certezas que antes havia jogado fora.

Não sei por quanto tempo escreverei e apagarei textos, blogs, planos, sonhos e desejos. Sei apenas que jamais deixarei de busca-los.

Mais uma vez, cá estou, guiando minhas Noções Secretas, por tempo indeterminado.