quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Intuição


Quando os primeiros sintomas apareceram, ninguém deu muita importância, mas quando a gravidade se instalou, nenhuma alma sabia explicar como aquilo sucedera com tanta rapidez.

Na UTI, desacordado, a nada reagia. Parecia que o mundo havia desaparecido e levado seu espírito.

Ele observava, e mesmo sem reagir, estava ainda esperançoso. Talvez estivesse apenas fingindo não perceber, ou realmente não estava enxergando sua vida esvair-se aos poucos.

Ela sentia no fundo do seu coração que estava acabado, e só lhe restava aguardar a hora fatídica.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Observação


Percebia cada detalhe, toda ansiedade, qualquer impaciência.
Não reagia e nem sequer emitia uma palavra sobre o assunto.
Observava sua distração, sua pressa, seu silêncio, sua distância.
Sentia-se como um fantasma cuja presença só é notada quando convém assustar-se.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Tato


Com o tempo desaprendeu a valorizar as pequenas coisas da vida, de forma que nem as grandes o satisfazia.

Havia esquecido todas as experiências anteriores, de maneira a não mais saber penetrar na alma, com suavidade, através de palavras. Estas agora deixavam marcas profundas que desnorteavam os sentimentos.

Perdeu a medida da delicadeza e parecia estranhar a sensibilidade.

Estava em desequilíbrio, devido aos movimentos obscuros que o guiavam à instabilidade.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lapso


Escondia suas emoções, chegando ao ponto de não conseguir mais transpor as barreiras que esse encobrimento lhe causava.

Sentia-se preso por amarras às quais havia se submetido para proteger-se da censura, esta última, o terror de seus dias passados.

Enganou-se ao pensar que roubar seus sentimentos para si, livraria sua vida de desgostos e cobranças, porque agora, exigia de si mesmo as direções que perdeu ao fazer o caminho inverso do labirinto em que havia adentrado. As censuras agora atingiam as paredes internas das trincheiras que deveriam lhe proteger, já que estas ultrapassaram os sentidos.

Era o algoz de sua própria mente, seu único inimigo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Hesitação



Disfarçava tão mal, que a falta de sutileza era gritante.

Transpiravam indiscrição por todos os poros e afligia-se com a possibilidade de ser descoberto.

Mal sabia que tudo era tão claro e transparente, que nem a enxurrada de disfarces com suas artimanhas mal disfarçadas conseguiriam esconder.

Estava enganando a si mesmo, porque o tempo descobriria sem esforço os erros, expondo-o em todas as tentativas de não mostrar-se.

Quanto ao outro, não se corrói pelo incerto. Aguarda pacientemente pelo desfecho dessa trama, ora sereno, ora ansioso, apesar de já ter tomado sua decisão.