À beira do fogão vou cozinhando meus pensamentos em Banho-Maria. Não utilizo mais o fogo alto porque faz grudar nas paredes e no fundo da panela, deixando o ar com um cheiro amargo de queimado. Aprendi a colocar os condimentos certos, apesar de ainda perder a medida dos temperos, mas não penso muito a respeito, prefiro ir experimentando os meus gostos e sabores.
Não aceito sugestões ao meu desgosto porque eu não adiciono pitada de incertezas, para não deixar as receitas intragáveis.
Mexo devagar a paciência, cortada em cubinhos, para não desmanchar de uma só vez a satisfação de sentir o momento, um verdadeiro presente. Asso bolinhos de sol e frito meus sonhos recheados de ternura e abraços. Espero o borbulhar do creme de decisão e seu cheiro doce, para saber a hora exata de executar minhas ações, mas perco noção das palavras que se formam na panela ao lado, numa sopa. Sem saber como fazer para provar do caldo escaldante, vou lendo e falando, por pura felicidade e descuido, até hesitar, e quando percebo, estou tampando as panelas após experimentar uma por uma as saborosas receitas da vida.
