sexta-feira, 25 de maio de 2007

Noções Perdidas


Procurou desesperadamente entre seus pertences, mas nada, nem uma lembrança ou um pequeno pedaço na memória que pudesse denunciar onde estava finalmente guardado.

O vazio que se seguiu então, acompanhado de um silêncio assustadoramente ausente de movimentos era surpreendente diante de tantos gritos de desespero, emitidos por si mesmo e pelos outros, que sem saber o que se passava, tentavam de alguma forma acudi-lo mesmo sabendo que não haveria tempo.

Sua palidez era visível e, sua aflição comovente...

...Caiu sem cor e sem ação como um objeto inerte e sem vida.

Não, não havia abandonado sua existência. Estava apenas desesperado, procurando lembrar em que local havia deixado suas noções.

Apenas uma certeza havia em seu semblante:

Não estava na gaveta da cômoda e nem dentro do casaco ou bolsa pendurados atrás da porta.


Estava mais perto do que ele poderia supor.

O beija-flor e o Vento




Foi voando que aprendeu a distinguir os aromas e essências fundamentais para sua sobrevivência e través de seus pousos fugidios se escondendo entre a folhagem, descobriu o amor com toda a sua força e beleza, como o dia que nasce.

Não poupou esforços para decifrar o grande segredo que pairava, sussurrado pelo vento, e grande tristeza sentiu ao adivinhar seu propósito.
Tudo era lindo e delicado, sem ser frágil, e ainda assim translúcido como um cristal. Essa transparência sufocava seus encantos e tornava seu brilho como o de uma estrela que acaba de se apagar.

Não era fácil amar, principalmente após descobrir as berrantes diferenças entre a verdade e a possibilidade nula de envolver-se nesse encanto tão breve.

Nunca poderia imaginar como seria difícil enfrentar a renúncia de sua própria identidade.

Seria esse o real motivo de sua fuga constante e indefinida.

Não fugia do amor, mas de si mesmo, seus complexos e apreensões.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Renascimento


Desde o dia em que me despi dos semitrovões e cuspi os relâmpagos engasgados em meu peito, desde quando percebi que a poeira não permeava os insignificantes ensejos dramáticos de meu passado, e as qualidades indesejadas já não faziam parte de mim, tirei todas as capas que porventura atrapalhariam meus desígnios e fiz um monte com os despojos restantes da guerra travada entre eu e os fantasmas de minha consciência inconsciente.

Não venci, mas também não fui vencida.

Sobrevivi e das cinzas levantei-me para o último abraço de adeus.

domingo, 6 de maio de 2007

Tempestade Mascarada


Um mar de angustia invade o ambiente, antes descolorido pelos constantes chuviscos que respingavam em cada objeto uma cor de pavor, e manchavam os cantos com imensas manchas desacreditadas de medo.
Não era o medo da chuva que acobertava a palidez ao redor, mas o escorrer de muitas águas descobriam a verdadeira face aterrorizada ao mirar-se no espelho, enxergando sua forma natural.
Era o medo de ser o que era.
Era a falta de coragem de descobrir-se sem máscaras

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Culpa


Meu grande amor é triste e sozinho insiste em culpar-me por seus dissabores, que não são poucos.
Eu apesar de achá-lo sem razão, não o repreendo, mas calo meu coração e permaneço muda até faltar o ar que inspira nosso amor.
Percebo que também sou só, não no amor, mas em mim e não culpo ninguém, porque sei que me basta amar.